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Tudo passa

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Sexta-feira, 20 horas, ventava lá fora, mais parecendo uma noite de inverno, apesar das folhas secas espalhadas pelo chão confirmarem que, ainda, é outono. Eu, perdida, olhando a tela do computador e pensando sobre o que poderia escrever para ser publicado na coluna Opinião, do Diário de Santa Maria, da próxima quarta-feira. A inspiração não vinha, muito provavelmente por estar cansada depois de uma semana brigando com o sistema informatizado do judiciário que, mesmo muitos dizendo estar normalizado, o Themis apresentou instabilidade todos os dias. Devido à chuva, não foi possível apreciar o pôr do sol que é um evento de final de tarde que sempre me alegra. As notícias recentes, também, não eram nada animadoras, visto que mais cidades do Estado receberam avisos de alerta e de ações necessárias à contenção do Covid, pelo fato de que os casos de contaminação e de internações em UTIs aumentaram muito.

De repente, ouvi a música Memory vinda da televisão, propaganda do musical Cats que está na programação do Telecine. Ela é cantada pela gata Grizabella, que lembra seus velhos tempos de glória, quando era jovem. Coloquei a música no spotify e me deixei levar pelas lembranças. A rua estava silenciosa e de fundo só se ouvia o barulho do vento batendo na janela. Mesmo não sendo meia-noite, coincidentemente, aquele momento foi retratado pela tradução da letra da música. Assim como a gata do musical, lembrei-me do passado e dos dias em que a vida era mais colorida, onde era possível andar, viajar livremente e assistir a grandes espetáculos. Com saudades, deixei as imagens daqueles dias de liberdade viverem novamente em meus pensamentos, pois, não há nenhuma garantia de que, há médio prazo, terei aquela vida de volta.

Todos temos dias de melancolia e o meu foi na última sexta-feira. Felizmente, o sábado amanheceu menos nebuloso e a noite de sexta ficou nas lembranças. Um novo dia começou e com ele a necessidade de viver o presente e ser feliz. Portanto, nada melhor do que seguir os conselhos da avó da escritora russa Elena Mikhalkova, transcrito na obra The Room of Ancient Keys: "Em tempos difíceis, você avança em pequenos passos. Faça o que tem que fazer, mas pouco a pouco. Não pense no futuro, nem no que pode acontecer amanhã. Lave os pratos. Retire o pó. Escreva uma carta. Faça uma sopa. Você vê? Está avançando passo a passo. Dê um passo e pare. Descanse um pouco. Elogie-se. Dê outro passo. Depois outro. Você não notará, mas seus passos crescerão cada vez mais e chegará o tempo em que poderá pensar no futuro sem chorar."

Evidente que a minha tristeza voltaria, com força total, só de lembrar de que, em pleno sábado, teria que lavar pratos e retirar o pó. Como do serviço da casa não dá para fugir, enfrentei-o com uma nova música: Vivir mi vida, cantada por Marc Anthony. Só o ritmo da música, sem considerar a letra, também oportuna, fez tudo ficar mais colorido e trouxe a certeza de que tudo passa.

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